quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Aliterário para pulsar os passos

Às vezes o melhor é transformar a caneta na faca que marca a madeira para as palavras não se perderem no tempo.
Hoje houve uma marcha não autorizada aqui em Santiago, na Plaza Itália. Nessa eu não estava presente, porque em geral elas são fortemente reprimidas. Um dos moços que mora comigo, no espírito jornalístico, foi para lá no fim da marcha, e presenciou desde uma senhora idosa cantando (Y va caer, y va caer, la educación de Pinochet – o que, por sinal, toca na minha cabeça todo o tempo) para os carabineiros, até pessoas sendo presas sem porquê, até os encapuchados atacando os carabineiros que também não haviam feito nada. Alguns trechos da cidade estavam afetados pela fumaça do gás lacrimogêneo e também por aquela das madeiras queimadas por alguns estudantes. Pode parecer o palco de uma guerra civil.
Outros ambientes mantinham seu cotidiano de maneira mais ou menos normal.
De modo geral: há mais de quatro meses que se busca um acordo razoável com relação à educação do país, e nada de muito sólido soa. Já mudou o ministro da educação, e ainda assim as propostas parecem ignorar a inteligência dos cidadãos chilenos. Educación gratuita, no más.
Amanhã cerram o semestre acadêmico – sim, voltaram às avaliações mesmo com o paro, para que não se perca o primeiro semestre para sempre. O que vai ser do segundo ainda não sabemos, mas parece possível que agora as tomas das universidades sejam mais marcadas.
Os líderes parecem não representar mais as pessoas. Há por aqui passos sem pressa, mas também há uma efervescência quente e fria, ingênua às vezes, extremamente sábia outras. Quem não quer ver o que está acontecendo não vê. Tudo parece intenso e ao mesmo tempo insuficiente.
Minha dúvida é justamente essa – será que é assim que começam as guerras? Os golpes? Será por isso que muita gente passa por regimes políticos culpáveis sem nem perceber (ou querer ver) o que se passava?
Até onde será que vai essa luta, de modo que determinado lado ceda?
Há espaços na trama. Há linhas rotas, há farrapos, há nós rígidos, e há toda uma entrelinha para se tecer uma vida que tenta ignorar (com alguns incômodos) o que está a-(com)-tecendo.
Que teço eu com esse verde e vermelho que tenho em mãos?

(aliteração de ânimo)

Fazendo as devidas menções: o moço que mora comigo é o Daniel Giovanaz, que certamente vai ser (é) um ótimo jornalista.