Não falemos mais sobre amor.
Aonde isso pode nos levar?
Ninguém tem intenção polifônica
em seus monólogos intermináveis
e racionalizantes do sentir.
[Sensibilidade demais já não é
bem vista nem na fotografia
(afinal, existe flash).]
Enquanto estamos aqui sentados
nessa espiral fechada de confissões angustiadas,
enformando toda a colorida e amorfa massa sentimental
em pinheirinhos natalinos socialmente tragáveis,
o que poderia ser algo mais límpido e bruto
é talhado num diamante inútil, inexpressivo.
Enquanto tentamos passar o amor
por esse buraco estreito de fechadura
que leva à caverna de Platão;
enquanto isso ele deixa de ser.
Esses monólogos racionalizantes da emoção
são eficientes evaporadores
que não deixam nem sal nem lágrima,
só o vazio que lhes cabe.
Então se é para ordenar o arco-íris
num catálogo de cores
arquivado num canto vazio e empoeirado
de nossa percepção;
se o vazio previsível é o placebo
para nossa angustia,
então não falemos sobre nada.
Não falemos sobre amor
enquanto isso significar sua morte certa.