domingo, 17 de julho de 2011

Lua cheia

Essa é a última lua cheia que passo aqui. Minha voluptuosa lua cheia! Será que lá serás tão linda? Será que lá terás a mesma cor? Que face me mostrarás lá, pequeninha e brilhante lua cheia? E que estrelas serão tuas irmãs? Que constelações velarás? Que cantos inspirarás? Quantos outros amarás – e já não amas?
Vejo-te daqui, por trás dos fios, e sorris. Será você quem me receberá lá, não é? Com aquele sorriso suspenso, digno de um fabuloso país das maravilhas, abrindo aos poucos, até tornar-se um farol, indicando-me a direção. Qualquer direção (que com você isso não importa).  Terás de ser afetuosa: um carinho conhecido far-se-á necessário. E retribuirei com poesia – sinto se elas não são tão boas, mas o amor não é menor.
Agora me empresta esse cobertor de estrelas para eu cobrir as costas e adormecer enquanto ligo os pontinhos.

sábado, 2 de julho de 2011

Outra perspectiva

A mesma poltrona. O mesmo queijo (porém, outro). A mesma varanda, e a mesma cortina balançando. Mas hoje, dessa vez, era o sol quem se despedia, atrás de toda aquela cidade, indo para outro lugar do mundo. Sorte do sol que podia viajar assim, todo o dia. Sorte do mundo que tinha o sol, todo o dia.
O tema era o mesmo de anos atrás, mas, dessa vez, não eram a noite estrelada e a lua que interagiam com seus pensamentos. Era o sol. E aquela linda vermelhidão no horizonte. Ah, a poluição pode fazer mágicas! Tá aí um ponto positivo desse ar, tão viciado, dessa cadeia de prédios, desse rio fedorento, dessa coisa toda, chamada São Paulo.
O tema era o mesmo, mas, a perspectiva era outra. A lua já não era mais a plácida amiga que fazia ver a beleza na melancolia. A lua era sim uma voluptuosa amante, sua eterna musa, sua eterna mulher, aquela que sempre teria os braços estendidos quando quisesse voltar. Ela era livre, não havia mal em sê-lo também. E o sol... o sol era a companhia de todos os dias. Era aquele que fazia o mundo todo ser como sua casa. O mundo todo aconchegante. O sol lhe abraçava todos os dias, podendo às vezes se esconder embaixo de seu cobertor de nuvens, quando queria um momento só para si. Nesses dias, também se enfiava embaixo dos cobertores e aproveitava um momento só para si. E o vento! O vento era aquele amigo dos melhores dias. Quando a vida parecia lhe sufocar, aquela brisa suave lhe acariciava o rosto e soprava a liberdade em seu peito. Vento nos cabelos. Não importa se está frio. Quando se está parado, o vento traz a sensação de movimento, e então o mundo gira. O vento era seu companheiro de mochilões, fossem reais ou imaginários. O vento lhe dava asas. A terra, por sua vez, confirmava diariamente o que o sol prenunciava: o mundo é sua casa. Sentir aquele cheiro de terra úmida, e sentar à sombra de uma árvore – enquanto o vento soprava seus cabelos – nada podia pagar aquilo. Não há tempo ruim quando se tem um sol, uma árvore e um ventinho. E por fim, aquela com quem tinha menos contato no cotidiano: a água. A água, naquele trecho da cidade, não era muito empolgante... Ela tinha perdido a liberdade. Mas, às vezes, ela se revoltava, e provava que sem muito esforço poderia quebrar aquelas correntes... A água era a que mais temia. Algo lhe dizia que morreria na água. Porém, era a que mais lhe fascinava, talvez justamente por isso. A chuva (wash away the pain), as gotas grossas em seus cabelos e ombros. E o rio (não aquele preso e mal cheiroso), seu barulho, sua força, seu eterno movimento... Por que alguém acorrenta um rio? Isso lhe chateava um pouco. E o mar. AH! Que saudades do mar, da areia, do vento.
A perspectiva era outra. O mundo era sua casa, e mesmo quando se tornava hostil, nada podia apagar suas memórias de tantos lugares e momentos que lhe provavam que o mundo era sua casa. Queria tanto abraçar o mundo. Mostrar para o mundo todo o como é fácil amar, ter paz. Queria berrar bem alto para o mundo um tremendo “EU TE AMO!”, mas, isso poderia parecer loucura ou perversão. Então só berrava baixo, quando estava relativamente só. E dizia, para aqueles que estavam perto: eu te amo.
Te amo enquanto parte de mim. Enquanto amor eterno e finito, sendo finitamente infinito, mas para sempre duradouro. E sempre vou te amar, enquanto parte do mundo, nossa casa.

De setembro de 2010