quarta-feira, 20 de abril de 2011

Pimenta bandeirante

De toda pimenta do pote
Comi a comida mais emocinante
Tombei no sabor e na aventura
Exagerei para provar bravura
Impressionei quem se interessasse
A boca abri e bravejei
Palavras singelas e vermelhas
Que da pimenta tomaram o corpo
Desfigurando suas primeiras intenções

Da bravura dissimulada
De desinteresse forçado
Da pimenta da orelha esquerda
Manifestações pelo meu corpo
Provam a humanidade de meus atos
E minhas víceras todas ardem
Como a ressaca da minha coragem
E meu rosto se põe em chamas
Naqueles veios que abrem caminho
descendo em direção ao peito
que antes tão imponente
agora mingua, na ausência do eu
Da firmeza do eu
Que advinha da força da comida
Comida encoberta pela pimenta

Agora o pote está vazio
Nem pimenta, nem comida
Nem audácia no meu peito
Mas um arder crepuscular
Que me tira as energias
E me dá forças
E me faz sentir viva, viva
Num queimar antes esquecido
Que faz jorrar o sangue
E dá vontade de morrer.

(24/06/08)

acho que hoje mudaria o último verso para "E dá vontade de viver"

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Saudade de Vinicius

Me deu saudade de Vinicius. Assim, sem ênclise, mesmo. Me deu saudade daquelas tardes em que sentávamos no parque e discutíamos a vida, ele contando da formosa, me aconselhando nos casos do coração ou do estômago, esboçando uma ou outra poesia. Aí começava a cantar meio erradinho, se eu brincava ele cantava “Desafinado” e ficava tudo ótimo.
Sempre ficávamos até o pôr do sol, minha hora favorita do dia, porque os raios do sol nessa hora ganham uma incidência e uma coloração que deixam tudo mais bonito. Meio da cor do fabuloso destino de quem quer que esteja vivendo por aí.  Aí girávamos até dar uma boa tontura e caímos na grama rindo. E o mundo girava junto. Às vezes um ou outro louco que estivesse por perto entrava na brincadeira, e então era mais gente rindo, assim, por nada. Por nada que era tudo, na verdade. Vocês já giraram até ficar tontos e caíram na grama verdinha num pôr do sol bem amarelado, com um céu azul Luana de fundo? Melhor ainda quando já tem uma estrela despontando, perto da lua. Todo o mundo na festa.
Vivi tanto com Vinicius. Não sei bem o que ele é pra mim, sabe. Amigo, mestre, guru, musa, amor, irmão, pai, avô... Mas Vinicius certamente é uma boa companhia.