Hoje estou
cheia de passado.
Há tanto
passado em mim
que já nem
sei direito o presente.
Talvez
porque o presente ande mesmo meio etéreo
abrindo
espaço para qualquer coisa que o queira preencher.
Deveria ser
o futuro
Acho que
deveria ser o futuro
Mas talvez
aquela incerteza traga antes
memórias de outros
tempos felizes
(talvez já
romantizadas, polidas, relativizadas)
do que os
planos pro que há de vir.
Talvez que a
felicidade do que foi
esteja
abrindo os braços pra alegria do que virá
E enquanto isso
A cereja do
bolo é o corvo na janela.
De tanta
coisa que aconteceu hoje,
acho que
essa é a mais melancólica de todas.
Durante
minutos e minutos ele sentou na chaminé
e olhou
através de minha janela.
Ensaiei
tirar-lhe uma foto, então ele se foi.
Esse olhar tão
impregnado de “never more” e silêncio
parecia
querer me lembrar
da
durabilidade dos dias de chuva e contemplação em solo europeu;
de que
refletir sobre o passado é um lapso
de que Ei,
Veja só o presente aqui.
O silêncio
emudecido ao som do contrabaixo acústico
voltou com o
céu cinzento
(a primavera
etérea como o dia de hoje).
Então nada
me resta além de compor,
plantar notas
nesse silêncio fecundo.