segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Aqui deixo minha última flor

Aqui deixo minha última flor, de pétalas vermelhas e caule verde, como suas folhas.
Seu espírito não existe mais, porque nunca existiu.
Sempre pensou existir, mas descobriu a pouco ser mentira.
Seu corpo padece a perda de algo que nunca foi.
Suspira lentamente.
Aqui deixo minha última flor e finjo partir.
Finjo.
Nunca partirei de verdade, não sei como fazê-lo.
Mas a simples idéia de partir deixa meu espírito, que não existe, mais leve.
Vou deixar essa vida de espírito e vou viver minha vida de ser.
Serei poeta do campo e farei da poesia meu meio de ser sozinha, como o mestre.
Largarei, renunciarei.
Morrerei.
Viverei nos meus sonhos.
Nunca mais sairei de lá.
Se sair, somente e tão somente observarei minha última flor.
E verdarei e vermelharei para parecer ela, e suspirarei.
E meu corpo padecerá, e se algum dia morrer, deixarei de ser, portanto, de existir.
Minha alma não vai a lugar nenhum porque ela não existe.
Minha memória se apagará.
A memória de mim também.
Nada sobrará, a não ser uma pétala vermelha, já seca.
Meu corpo vai morrer. Vai sumir. Nunca vai ter existido.
Sobrará, somente, uma pétala vermelha, já seca.

Começo de 2008.  Banhada em Caeiro.

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