A cordilheira veio me visitar na quarta, aqui em Sampa. A
dos Andes, eu digo.
Vocês podem pensar que eu sou louca (vai saber?), mas eu
tenho testemunhas oculares da presença da cordilheira, bem ali, pros lados da
estação da Luz. Ela estava lá quando eu saí do trabalho, me saudou com um
sorrisinho. Duas das moças que trabalham comigo viram, e um amigo que foi me
visitar também. Tava bem ali, no horizonte, na frente do pôr do sol; sombra
contrastante. Infelizmente não tenho fotos pra provar.
Ela veio bem assim, como ficava quando eu vivia em Santiago,
toda bonitinha, imponente, mas aqui ela indicava o Oeste – por isso se via só
uma sombra bem contornada, e não a neve levemente iluminada, como nos fins de
tarde de Santiago.
Eu saí do Museu, vi a cordilheira ali e não estranhei. De
repente me dei conta do fato, perguntei para as meninas se aquela montanha
sempre esteve ali. Pensamos juntas por um momento. Uma delas disse “acho que o
Jaraguá veio dar uma volta”. Mas certamente não era o Jaraguá, porque ele tem
uma forma bem característica, e é só um pico, e ali se via claramente uma cadeia
de montanhas, bem ao longe.
Fiquei feliz. Podia ter vindo só o Cerro San Cristóbal, ou o
Santa Lucia, que são menorzinhos. Mas poxa, veio a cordilheira! Estou certa de
que ela não veio inteira – já pensou a confusão que ia ser? -, mas veio uma
parte bem palpável. Deve ter sido uma experiência interessante para os
mochileiros pedindo carona naquele pedaço, sair do Chile ou Argentina e de
repente dar no centro de São Paulo. Presentão andino, pra mim e pra eles.
No dia seguinte ela já não estava mais. Eu fiquei com
saudades, mas entendo, porque ela devia estar fazendo falta no horizonte
santiaguino. Vai ver ela resolveu dar uma viajada pelo Brasil, respirar uns
ares mais limpos.
Na próxima tá convidada pra passar a noite aqui em casa! E
chama a galera toda, a gente faz chorrillana, feijoada, e toma um vinho e uma
caipirinha!
- e daí morre de indigestão, né. Melhor vir pra passar o fim
de semana –