Essa história de
despedidas nunca foi fácil para mim. O que é dizer que a vida toda vem com
certa dificuldade, pois se a vida é feita
de encontros, ela também é feita de despedidas. Não que eu veja um grande
pesar nisso, acho natural. Acho que o crescimento vem muito forte nestes
momentos. E no fim lido bem com as separações. Acho que é exatamente isso que
me incomoda, no durante. Porque cada encontro é tão intenso, tão cheio de vida
em si, que se torna eterno e único, e o ego dá uma leve contorcida ao lembrar o
paradoxo dos eternos e únicos que são findáveis – em certa dimensão – e não são
individuais, existe uma cadeia de únicos. Acho que é aí que está a beleza da
vida, nessa dança e comemoração toda.
É importante ressaltar que o fim nunca é o fim (para mim,
pelo menos), porque é justamente nesses entres que eu encontro os momentos de
maior contemplação. Tudo sempre está de volta, passeando pelo meu ser e se
ressignificando nos meus novos eus. Existe toda uma vida nas relações humanas, todo
um envolvimento, que às vezes é tão forte que no durante nem sequer pensamos
sobre o durante, somente vivemos. E quando acaba existe todo o medo do
desconhecido, do depois, toda uma incerteza, que vai gerando novos sonhos,
ideais, encontros e durantes. Mas existe um entre, um pequeno lapso, que vem
depois da percepção do fim e antes do planejamento do próximo, e nesse lapso
está a contemplação. Nesse lapso é onde eu penso sobre o que acabou de ser, o
que foi há já muito tempo, e as possibilidades do vir. E nesse lapso tudo
revive, e o tempo funciona de forma acrônica.
Eu gosto de entardeceres e de nasceres do sol. É bonito ver
a prova da não existência de um antagonismo entre dia e noite; é tudo um
processo. E essa transição é cheia de cores, a incidência do sol deixa tudo
mais bonito, as estrelas despontam no céu, não é nem muito frio nem muito
quente, não é noite, não é dia. É um entre.
Eu gosto de transportes públicos e o caminho para os lugares
(deixando de lado a pilha de críticas ao transporte público em São Paulo),
ainda mais se há música ou conversas. Eles fazem a transição perfeita, não são
lá nem cá, são um mover-se, e dentro deles há um punhado de pessoas nesse mesmo
estado, cada uma com sua história e seus destinos e durantes – e de repente nesse
entre nasce um encontro.
Eu gosto de viajar, em ônibus de preferência. Mesmo que leve
3 dias para chegar a meu destino. Para mim é muito estranho isso de estar num
lugar e de repente estar em outro e aí já mudou tudo as pessoas são outras as
cores são outras o jeito de falar é outro e eu ainda não. Acho bonito o que se
vê pela janela, a mudança gradativa, os lugares que só vejo de relance, mas já
dão uma dimensão do caminho, da vida naquele entre. Porque pode ser que aquele
entre algum dia vire destino, e então ele é um relance do futuro.
Também gosto de andar. Bastante mesmo. O entre se alonga,
mas o caminho todo deixa de ser só uma passagem e vira um durante. Andar na
estrada, ver a paisagem, esperar uma carona. O entre cidades, o meio do nada,
também é um lugar. Basta você querer.
E é claro que os durantes são muito lindos e é difícil abrir
mão deles, mesmo sabendo que outros encontros virão. Mas é o entre que nos
permite recordar e reviver, assim como criar mil possibilidades do porvir,
assim como inventar qualquer história que nunca se viveu nem nunca se viverá.
Também nos permite somente contemplar o caminho, os outros entres e durantes.
Porque às vezes é bom deixar um pouco de ser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário