Faz
um lindo dia de outono. Céu azul, sol ameno, vento fresco. É bonito ver a forma
como as folhas balançam num balé despreocupado, projetando um pequeno filme de
liberdade no chão.
Essa
cadeira de balanço e essa antiga varanda nunca me deixaram na mão. Sempre que
preciso entender minha vida, venho para cá. Os amores inconclusos, os trabalhos
incompletos, os ideais não alcançados, os caminhos não percorridos. A vida
sempre parece curta demais para tudo isso que cabe em mim. Ao mesmo tempo às
vezes se veste de beco sem saída, como se já não houvesse mais o que trilhar a
não ser essa velha cidade. Tudo tão breve e infinito.
Essa
conjuntura de espaço, tempo e clima sempre me levam longe nos pensamentos.
Cruzo fronteiras internas, viajo ideias que nem eu sabia que existiam em mim,
revejo outros tempos. Às vezes, num lapso, até revivo sensações e sentimentos
que pareciam irrecuperáveis, como descreve bem Marcel Proust.
Nunca chego a
nenhuma grande conclusão sobre minha vida, é verdade. Mas percebo que há coisas
mais importantes para se observar, como o balançar dessas folhas, ou o novo
botão de rosa que começa a despontar na pequena roseira que minha mãe plantou
para mim. Há também aquele lírio que pensava que tinha morrido com o fim de um
amor, mas agora esboça um par de botões brancos. Nada renasce antes que se acabe. E a beleza continua apesar de.
Fecho os
olhos, sinto o sol morno aquecendo meus pés gelados. Ouço o acolhedor e
desconcertante som daquela steel drum... e deixo levemente de estar.
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