sábado, 20 de março de 2021

Pandêmicos


 


I.

 

Destilo esse vazio em mim

em palavras em versos

(procurando talvez me embriagar

na arte?)

eu sabia antes

como fazê-lo

mas agora

 

Eu puxo os versos e eles mal se movem

é como a vida

- como destilar a vida

em meio a tanta morte?

 

Como ouvir o sopro do clarinete

em meio a tanto caos

para tentar compor a harmonia?



II.

 

Esse silêncio povoado

pelo pior dos barulhos:

a risada de escárnio

de quem não se importa.

 

Enterros vazios

praças cheias

cemitérios lotados

 

As lágrimas que escorrem

na ausência repentina

ou na risada dissociada

na festa diária

da negação.

 

Há de fato uma divisão?

ou

O que é que nos une?

 

Talvez o abandono

à nossa própria desgraça:

a de se reconhecer triste

ou a de ter que ser

invariavelmente

feliz. 

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