sábado, 17 de novembro de 2012

Além



Declaro a morte de tudo o que já está morto
e a inexistência daquilo que não existe,
e peço um minuto pelo silêncio que reina velado.
Que amansem as vozes que já não são,
que acalme o pulso acelerado do medo
e que nos fixemos agora no nada em nossa volta.

Aí está ele, fingindo ser.
Mas se você reparar bem, olhar fundo
não há nada mais do que outra pessoa,
outras tantas pessoas,
tentando enxergar além do vazio.
Este agora está incolor, inodoro,
sem gosto e sem graça.

Ninguém está tentando te calar.
Ninguém está tentando te matar.
Não aqui, não no centro dessa cidade.
Quem está contra você?
Essa pessoa, buscando algo além do nada?
De quem você tem medo?
Desse homem sem cobertor embaixo da chuva,
olhando a névoa se dissipar?

Quando os gritos de horror se calam,
não ouvimos gritos de agressão.
O agressor não está.
Onde está o maldito?

Além do vazio está você,
estamos nós.
Quando o orvalho baixa,
a lua ilumina todos os rostos assustados.
Somos muitos,
e a noite é nosso lençol.

O olhar de medo vira um olhar sem graça.

Uma voz soprano entoa um lamento.
Alguém pega uma caixa de fósforos e começa a batucar.

Agora sim, agora sim...
Que comece a festa!

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