I
Você tem razão, aqui parece que não acontece nada.
Aqui acontece tudo, tudo, mas parece que não acontece nada.
Parece que não aconteço nada...
Sinto
falta do mar. Parece tão longe. Aqui parece tudo tão longe.
Quando é que o mar vai me levar?
Pronde é que o mar vai me levar?
Sinto
falta de ser navegador de mim.
Tenho
medo de naufragar nesse vácuo turbulento que me leva.
Quando é que o mar vai me levar?
Quando?
É que o mar vai me levar...
Quando
é o mar, vem me levar.
II
É engraçado como cabe uma casa
toda nesses 70 litros. A vida não precisa de mais que isso e uma boa companhia.
III
Eu nem sei por que lembro de você. Quando a gente desmergulha
do sentimento e vê ele parado mais de longe até esquece a fundura que era.
Meu negócio é andar é por isso. Ali na estrada, pé na terra,
parece que tudo isso aí vai se borrando, se dissolvendo no suor e sal. Vai
deixando de ser importante, porque a natureza é bonita demais; o cansaço e o
peso da mochila são revigorantes; a dor no corpo, a fome e os borrachudos
incomodam com mais verdade, e a gente vê que o mundo segue mundo, com dor ou
sem dor, com a gente ou não. E quando cê já tá pedindo arrego aparece uma água
daquelas verdes ou azuis pra te sanar.
Nessas coisas todas a gente vê com mais clareza. O amor que
doía vira saudade bonita dos tempo bom, o trabalho que cansava vira a risada
dos companheiros de dia-a-dia, a família tão crítica vira momento de carinho e
vida compartilhada, e os amigos, ah, esses são lembrança em cada farfalhar de
folha.
É aí que a gente percebe que felicidade não tem desculpa,
nem tempo.
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