Comprei um
guia de viagens. Ele é lindo, cheio de fotos e lugares e mapas. Eu adoro mapas.
Aprendi a pirar com eles na minha infância, lendo O Senhor dos Anéis. É bonito
mudar de perspectiva, ter uma dimensão do todo, ver aquele monte de nomezinhos
e constatar que há muitos lugares para se conhecer nessas vidas, muita gente,
muita história.
Há um tempo
saí das páginas de dicas de viagem e caí na estrada. Deu um frio na barriga, o
famoso medo do desconhecido. Milhões de “e se” passaram pela minha cabeça. No
fim deu tudo certo, mesmo com todos os erros e perrengues. Foi linda
experiência. Aumentei o tempo na estrada, no segundo mochilão, e fui para terras
de outro idioma, de muitas culturas novas. Que medo eu tive de não conseguir me
comunicar, de me perder, de perder os outros! Foi uma vida inteira, numa
pequena capsula de tempo. Aprendi a gostar dos perrengues, aprendi a
importância de me pôr sempre em questão.
Desde então a
estrada virou parte da minha vida, parte de mim, e eu parte dela. Sempre que
posso vou visitá-la, porque – boa companhia que ela é – ela sempre me leva para
lugares fantásticos, com gente incrível, com lições de vida.
A estrada, um entre, passou a ser também um onde, um lugar. Aprendi a ver além. Eu descobri que aquelas linhas que
marcavam fronteira nos mapas não podiam ser mais vagas. Quero dizer, é claro
que há diferenças em cada lado da fronteira. Mas no fim é tudo terra corrida. É
tudo gente que ri, e chora, e canta e ama. Tudo família.
Dissolveram-se
todas as fronteiras. Já disse Jorge Drexler que las fronteras se mueven como las banderas. O mesmo acontece com as
fronteiras temporais. Ano que vem é hoje, cada dia carrega uma vida inteira. A
noite pode ser o começo de muitas coisas, o dia pode ser hora de descansar.
Cada minuto é um ano a mais, uma nova promessa, a vontade de alcançar a utopia.
O amor também não tem tempo nem fronteira. O frio na barriga, o medo do
incerto, os perrengues, tudo vale a pena aqui também. E os fins não são mais
que novos começos, com um entre para
respirar. Felicidade não tem tempo, lugar, porquê. A vida é isso, multi, pluri,
inter, trans, una e tantas.
E meu desejo
de novos ares (ou novos anos, como cada um preferir) é justamente brincar de
corda com as fronteiras da vida. Sê livre, a terra é tua, o tempo é teu.
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