Há uma tristeza dentro de mim
e eu não sei o que fazer com ela.
Tem uma tristezinha dentro,
e eu sei que ela não me pertence.
É como aquele cravo
que nós apertamos com insistência
e ele simplesmente não sai,
e você esquece e passa,
mas de quando em
quando
você lembra que ele está lá.
Uma tristeza de como se eu tivesse
noventa anos de idade
e estivesse a pelo menos
dez mil quilômetros
da minha cidade natal.
Ou aquela tristeza incômoda
de ter perdido alguma coisa
que já nem lembro mais o quê.
E ela vem assim,
maior com nona
seguida da dominante
(com sétima menor).
Eu toco violão
eu toco flauta
eu canto e lamento e lamento
e nenhuma frequência
põe essa tristeza em movimento.
Eu queria saber de quem ela é,
quem foi que deixou ela aqui.
Porque ela não é minha
e não tô em condições
de cultivar tristeza alheia.
Amigos!
Estou doando uma tristeza!
Quem souber desincrustá-la
desse não sei bem onde aqui dentro,
leva a tristeza,
e uma serenata!
É que tenho sono
e muita preguiça
de tentar entender.
Mas não parece nada cabeludo,
minha gente,
é só dessas coisas que às vezes
a gente sente.
Sabe que,
olhando bem no fundo dos olhos
ela não é tristeza não.
Pode que seja só uma tarde de domingo,
ou uma pança bem cheia,
ou o final de um bom livro,
ou a despedida de um amor no terminal de ônibus.
Pode ser que seja só
a ressaca do ontem
precedendo o frio na barriga do amanhã.
Acho que é meu mesmo.