Ventava fresco, 26°C num dia de inverno, céu azul, tempo
ameno, dia de uma serenidade que nunca uma cidade grande como aquela podia
oferecer. Ela balançava na rede, atenta somente ao movimento de ir e vir e à
música que aquele dia compunha na sua cabeça.
Um frio na barriga. Lembrou-se do caminho para a casa de sua
avó, e de como em sua infância aguardava com emoção os momentos em que o carro
passava por descidas, provocando frio na barriga.
Borboletas no estômago... Toda uma sensação macia e quente
de um carinho interno que subia desde a barriga até o pescoço, envolvendo,
desnorteando, chegando ao rosto no tom avermelhado, como se de repente a coisa
toda virasse timidez.
A serenidade e a sensação de cosquinhas não vinham do
balanço da rede, nem da energia externa. Era paixão. Era um amar adolescente que
ela acreditou que tinha morrido depois de tanta vida trilhada.
Mas da onde vinha? – era óbvio que nascia ali, num ponto
logo abaixo do umbigo – Mas de quem vinha? Tão cheia de vida andava a vida, tão
cheia de gente, de lugar, de espírito, de som. Da onde exatamente vinha?
Parecia que a resposta a essa pergunta traria algo como uma
resolução de problemas; distinguir no meio daquele bolo todo a fonte das
borboletas coloridas e musicais seria o achado da vida.
A rede parou de balançar. Começou a escurecer. Toda sua
banda interna parou de tocar tantas músicas de tarde de sol e um coro de vozes
entoou um motete com textura e movimento de chama de vela.
Atenta ao centro daquela chama ela percebeu.
Que besteira procurar a fonte dessa paixão. Que besteira
desfazer o emaranhado de acontecimentos, como alguém que desmonta um
instrumento musical buscando a origem da música, desfia as cordas à procura dos
harmônicos.
Apaixonante era a própria vida, arrebatadoramente apaixonante,
assim, inteira e complexa.
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