Às vezes me pergunto por que é mesmo que não gosto dessa
cidade... Parque da Luz, 16h30; Ibirapuera, 10h: a incidência do sol e o canto
dos pássaros me fazem sentir outra pessoa, deslocada para um lugar melhor, para
algum canto aconchegante de memória ou ideal.
Mais um dia de trabalho, respiro fundo, menos um dia de
trabalho. Cinco minutos de passeio no Parque da Luz, por que não faço isso todo dia? Olha o moço lendo livro na mesa de
pedra, com o lago de fundo. Olha os senhores que tocam moda de viola. Olha as
mulheres rotineiramente sentadas nos bancos ou apoiadas em árvores, esperando
por um dia a menos de trabalho...
O crepitar das folhas no chão, as esculturas distribuídas
pela grama, uma brisa leve que às vezes São Paulo se esquece de soprar...
Minhas alpargatas pretas aos poucos vão se desbotando, ficando marrons,
enchendo-se de terra. Isso é vida. A vida inteira vale a pena por esses 5
minutos no parque.
No saguão da estação alguém toca uma fuga no piano. Ah, Luz,
e suas adoráveis surpresas!
Eu quero mesmo é ir embora de São Paulo, pra me lembrar com
carinho desses minutos, parcas horas, tão maiores que a vida-moribunda alimentada
por inércia apática. E um dia voltar e tocar Eric Satie nesse piano, para os
passantes e trabalhadores lembrarem-se da brisa leve e sol morno que ainda há.
Alguma coisa tem que
valer a pena.
é difícil permitir-se gostar, sobretudo depois de sofrer.
ResponderExcluirsão paulo causa um pouco isso.
só não sei muito bem como, ou quando, ou por que fizemos as pazes. é estranho voltar a gostar daqui, mas tô gostando desse gostar.
espero que você volte.
para isso.